quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Reino de Deus - Parte I, O que não é






Já estou indo pra mais de 15 anos nessa caminhada evangélica. Mas, como dormir dentro de uma garagem não me torna um carro, estar dentro de uma “igreja” não me torna Filho de Deus nem mesmo me garante dentro do Reino.

Não sei dizer se me converti de fato faz 3 anos ou se meu entendimento do evangelho ficou mais claro de 3 anos para cá, mas fato é que venho passando por um processo igual ao daquele cego que Jesus curou em 2 etapas.

Num primeiro momento via homens como árvores. Saiu de um processo de escuridão total e agora já enxergava. Via cores, luzes, fazia distinção entre verde, amarelo, azul, começou a ter uma noção de sombra, contraste, brilho, foco...
Mais ou menos como aconteceu comigo quando “aceitei a Jesus”.

Coloco a expressão MUITO entre aspas pois hoje não tenho muita certeza de que isso seja tão simples como eu imaginava, ou pelo menos, o processo acontece de maneira diversa do que eu cria.

Fui ensinado e assim eu cria que esse “aceitar” a Jesus era uma experiência que acontecia quando alguém, pelo menos de um modo geral, atendia a um apelo, que geralmente rolava num culto evangélico.

O lugar poderia variar. Assim, tanto fazia se o culto era dentro de uma igreja, numa praça pública, num trem ou no pátio de uma penitenciária. O que importava era essa dinâmica: Pregação, apelo (ou convite se você achar muito forte), uma manifestação de aceite ou concordância (normalmente um aceno ou repousar a mão sobre o coração), seguida do convite para se direcionar à frente, próximo ao pregador. Acompanhadas, as pessoas, ao som de uma música bastante emotiva comumente choravam e recebiam uma oração que, podia variar de acordo com a confissão doutrinária de quem a estivesse fazendo, mas em linhas gerais continha:
• Arrependimento do pecador

• Perdão dos pecados

• Libertação de cadeias espirituais, psicológicas, afetivas e culturais

• Purificação pelo sangue de Jesus

• Nome escrito no Livro da Vida

• Inclusão numa nova família de fé

Então, seguiam-se os procedimentos padrão, uns mais rígidos que outros, mas via de regra, a pessoa devia passar a orar, ler a bíblia, jejuar, freqüentar os cultos, mudar hábitos “pecaminosos” como roubar, mentir, fumar, beber, transar (confesso que esse retardou um pouquinho a minha decisão), resistir às tentações e então só faltavam 4 etapas: Evangelizar, escolher um ministério, para os mais consagrados, entrar par o seminário e aguardar a volta de Jesus.

O que há de errado nisso? Essencialmente, NADA. Não se trata de ser certo ou errado. Trata-se de uma questão de CONEXÃO ou não com o tema central deste post, O REINO DE DEUS.
A única questão em tese é que tudo o que foi dito acima pode ser feito sem ter nenhuma conexão com o Reino de Deus.

Essa expressão, O Reino de Deus, embora seja recorrente na boca de Jesus, sendo o tema mais falado por Ele, simplesmente desapareceu de nossos púlpitos e discursos dando lugar ao tal do “aceitar a Jesus”.

Bem, essa onda de aceitar a Jesus surgiu com um ilustre senhor chamado Charles Finney. Um ex-advogado americano que se converteu a Jesus e se tornou um grande pregador.

Suas pregações eram tão cheias de graça que começaram a atrair multidões e inúmeras pessoas começaram a se decidir por Cristo nesses encontros.

Numa tentativa de organizar essa multidão de “novos crentes” e oferecer a eles um ensino mais aprofundado das escrituras, Charles Finney solicitava que estes acenassem com uma das mãos para que fossem identificados e posteriormente cuidados.

A iniciativa era linda e louvável, porém, nos dias de hoje, ela ganhou ares de status final. Aceitar a Jesus era, à época, o início de um processo.

Alguns muitos anos depois, com o evangelho sendo diluído em água com açúcar e servido por uma máfia evangélica que trata as pessoas como números e as igrejas como empresas, esse ato de aceitar a Jesus se tornou um pré-requisito para se tornar membro de uma comunidade, praticamente um gesto de adesão e não de conversão, que é o que realmente importa.

Arrependimento genuíno, mudança de mente, compreensão do evangelho e principalmente, SUBMISSÃO a Reino de Deus se tornaram conceitos secundários. Ou muitas das vezes, desnecessários. Basta ir à frente chorando que pronto... Recebeu a Jesus, nasceu de novo, vai para o céu.

Quero desmistificar isso. Chorar é uma expressão de emoção que não tem nada a ver com a decisão por Cristo. Uma boa música, uma peça de teatro, uma declaração de amor também podem fazer as pessoas chorarem e nem por isso te levariam para o céu.

Levantar as mãos e aceitar a Jesus também não diz necessariamente nada, pois, pelo tipo de mensagem que se prega hoje, dificilmente alguém que esteja “aceitando”, está de fato, entendendo a decisão que toma.

Além do mais, segundo as Escrituras, ninguém confessa a Jesus como Senhor se O Pai que está nos céus não o revelar.

Portanto, considerando tudo isso e olhando minha vida e a da maioria dos que dizem ter aceitado a Jesus digo que o que acontece, no meu entendimento, é que as pessoas chegam às igrejas com muitas dores por conta das cargas da vida, machucadas, carentes, sofrendo, desempregadas, angustiadas e escutam uma mensagem de “alívio” para as suas dores e aceitam, como que para se livrar daquele fardo pesado. Porém, essa atitude, no melhor dos mundos, pode ter sido a porta de entrada dela no Reino de Deus.

Porém, o processo que teve início ali, ainda precisa ser desenvolvido, com muito afinco e renúncia.

Quem sou eu para dizer se as pessoas tiveram ou não uma experiência com Deus, longe de mim esse papel pontífice, o que quero dizer é que o Reino de Deus, o te4ma central da mensagem de Jesus, na melhor das hipóteses, só começou para elas, no momento que recebem a Jesus. Ou, na pior delas, a pessoa se emocionou, chorou bastante, aliviou a alma, mas não teve uma experiência com Deus. Daria na mesma se ela tivesse lido um bom livro, assistido a um belo filme ou ainda comparecido a uma consulta com um psicólogo.
Sendo assim, nem receber a Jesus, nem trabalhar na igreja, nem mesmo ter anos de “conversão” contabilizados, são garantias de estar dentro do Reino.

Então o que é o Reino de Deus afinal? Calma, temos muitos outros posts para tratar do assunto. Pelo menos você já sabe o que não é.

Sugiro que você comece a ler os evangelhos, comece com Lucas, isso vai facilitar bastante nossa caminhada.

Beijo no seu coração.

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