terça-feira, 31 de agosto de 2010

QUEM NÃO QUER UM GADARENO POR PERTO?


“...saindo da cidade veio ao seu encontro, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios...”

Essa é a história de um homem sem nome e sem identidade. A Bíblia não relata quem é ele, e ainda silencia sobre a sua família e origens.

É a saga de um homem marginal e violento,  que provocava medo e repulsa.

Porém mais do que tudo o endemoninhado gadareno, como é conhecido, era o arquétipo do que não se deve ser. Ele era o avesso, o contra, o anti.

 Representava a transgressão de todo padrão de moralidade, a quebra das leis da respeitabilidade. Era a encarnação de um elemento que a sociedade não quer ter em seu seio.

Será isso mesmo?

Tenho lá minhas dúvidas se as coisas são mesmo dessa maneira. A reação das pessoas ao verem o que Jesus fez ao libertar aquele homem daquele sofrimento me faz refletir sobre nossas relações sociais.

Qualquer pessoa que saia de um estado de absoluto descontrole como o que estava aquele homem, que oferecia risco tanto à sua própria integridade física quanto a dos outros, que não podia ser contido por ninguém, nem por cadeias de ferro, que cultivava hábitos nefastos como morar em cemitérios e andar nu e se torna um homem são, lúcido, limpo, de roupas novas e recobra seu perfeito juízo, mereceria de nós, no mínimo, uma alegria aliviosa, como quem diz: UFA, NOSSOS PROBLEMAS ACABARAM, ESTAMOS EM PAZ, Ou quem sabe: QUE BOM VER ESSE HOMEM RECUPERADO.

Mas não!!! A sociedade da época preferiu pedir a Jesus que se retirasse daquele lugar ao invés de serem gratos e festejar.

Já me encafifei demais a respeito dessa atitude e hoje penso que a reação de tais pessoas é na verdade a confissão de um mal social que  chamo de GADARENIZAÇÃO DO OUTRO.

O que é isso? É quando eu estabeleço, a partir de mim, os parâmetros de aceitabilidade, daquilo que deve ser seguido, do padrão de normalidade a ser buscado. E então, para afirmar esse padrão eu preciso criar uma antítese a ele. Logo, eu “gadarenizo” o outro.

Eu preciso da figura simbólica do gadareno porque ele estabelece o referencial do que não é aceitável, e então, eu que não me assemelho a ele, passo a ser o desejável.

É como se eu dissesse: Tá vendo aquele lá? Aquele é o exemplo a não ser seguido.

E por que isso? Porque sem um gadareno para canalizar todos os males e culpas, ficamos nós todos nivelados igualmente, não havendo mais os que são melhores ou piores.

A eliminação da figura do gadareno é uma ameaça aos que não querem ser vistos como suscetíveis ao erro, ao equívoco. Toca na ferida dos inculpáveis, dos que não falham e que se pretendem acima e/ou moralmente melhores que os outros, ou seja, todos nós quando subservientes à nossa natureza caída.

Acabar com o gadareno é assumir que não há, fora de Jesus, padrão de normalidade e ou aceitabilidade. Todos nós, sem exceção de qualquer gênero ou natureza, temos nossas feiúras e descaminhos.

Podemos não morar em sepulcros, mas muitos há que carregam no coração e na mente, o fedor e a verminose de um cadáver.

Talvez não andemos nus, mas cultivamos um caráter igualmente chocante e assustador ante Aquele cujos olhos são como chamas de fogo.

São omissões perversas, exclusões mesquinhas, rotulações covardes, maledicências ingratas, acusações precipitadas, antipatias gratuitas, predileções infundadas...

Nosso egoísmo é fático e real. Revidamos quando feridos, agredimos quando pressionados, no íntimo do coração, por vezes, nos alegramos quando opositores se dão mal.

Somos vaidosos e queremos reconhecimento por mais que digamos o contrário.
Morremos de pena de nós mesmos quando injustiçados e por aí vai...
 
Eliminar a figura do gadareno implica em reconhecer que todos igualmente, não fosse a graça preciosa de Jesus teríamos, por mérito, o mesmo destino que satanás e seus anjos.

Afinal, não há entre nós um bonzinho sequer, ninguém escapa, absolutamente ninguém.

Ao invés de apontarmos dizendo: lá vai um gadareno! Deveríamos clamar a Deus: Tem misericórdia de mim Oh Deus, porque sou pecador!!!

“... porque todos pecaram e carecem da Glória de Deus”  

Um comentário:

Mila disse...

É a pura verdade..nós precisamos de referencia pra seguir, pra nos alinhar, pra nos direcionar, mas esse referêcia nos foi revelada na pessoa de Jesus mediante o Seu amor incondicional fermentado pela graça abundante em nossa vida..mas msm assim queremos padrões humanos de referência pra nos justificarmos diante de nós mesmo como se fosse uma legalidade diante de Deus (uma ponte mesmo direta de legalidade diante do Pai) pra dizermos o quanto merecemos, precisamos, pq fazemos isso, aquilo, somos isso, aquilo e diferente de outras pessoas, os nossos gadarenos q fazemos ao nos compararmos, ou nem ao menos chegar ao ponto de comparação, simplesmente rotularmos q não faz parte do "certo", que não faz parte do que se diz "bonito" e continuamos assim...na mediocridade e hipocrisia de pertencemos algo gradioso que excluí varios gadarenos..e penso q esquecemos q todos, sem exceção, são amados incondicionalmente por Ele e que a Sua graça é para todos e que a "sorte" de sermos perante a sociedade bonitos e sarados não eh simplesmente pra se encerrar em nós mesmo esses status e sim pra que atraves de nós possamos transmitir o Amor que nos alcançou àqueles que Deus conta conosco sem uma pedestal maior de preferencia de Deus por nós, mas com muito temor e tremor sermos um com Ele (verticalmente) e horizontalmente com todos, começando a excluirmos esses gadarenos que rotulamos em nossos corações, enxergando quem de fatos somos, não maiores e melhores q ninguem..estamos bem agora e depois?? so o Pai sabe e so Ele sabe todas as coisas sobre todas as pessoas dessa Terra..quem somos nós pra querermos gadarenos por perto??

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