quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A PERVERSIDADE NO DISCIPULADO CRISTÃO



  

Quem tem a experiência com Deus crescerá, quem não tem, não o fará"

Não foi exatamente assim, mas essa é a essência de uma declaração de um grande homem de Deus chamado James Huston. Não concordo totalmente, mas minha experiência eclesiástica me força a dar a mão à palmatória: Há sim, verdade nessa frase.
Sei que as pessoas são diferentes e que cada um frutifica conforme a terra do próprio coração.


Também sei que Jesus discipulou sim 12 homens, de forma intensiva, por 3 anos e meio e que nos orientou a que fizéssemos o mesmo "Ide, fazei discípulos..."

A coisa iria muito bem, não fosse o gritante hiato entre o Jesus dos evangelhos e o Jesus dos evangélicos.

Não quero traçar paralelos, pois as comparações seriam muitas, apenas pretendo chamar a atenção para algo que me assusta nesse modelo de discipulado que vejo hoje.

Por força de uma visão empresarial do que seja igreja, onde os membros da instituição são vistos como números ou parte integrante de seu patrimônio e as conversões encaradas como adesões, surge na igreja um fenômeno cruel e perverso que é a coisificação de pessoas.

A partir do momento que eu aceito essa idéia de que pessoas e coisas são sinônimos, eu as trato como tal. E como coisas a gente usa, manipula e descarta é isso que tenho visto acontecer no que se chama de discipulado.

A eficácia do processo está justamente em sua sutileza, uma vez que os que se oferecem a esse serviço, geralmente, são pessoas amáveis, carinhosas e atenciosas, que estão dispostas a se doar, gastar tempo com o discipulo. Até aí tudo bem.

Gradativamente vai se estabelecendo uma relação de confiança e amizade, na qual o discipulador, dada sua experiência e "visão" vai orientando o novato, que dependendo do grupo a que esteja vinculado ganha nomes diferentes como bebê, filho espiritual, irmão mais novo ou outros, a dar os primeiros passos na fé rumo ao amadurecimento.

O problema do método é que na maioria das vezes esse tal amadurecimento não chega nunca e o bebê vai se tornando um súdito obediente e leal que não mede esforços para acatar as orientações do tal discipulador. Este então passa a capitalizar em cima da ingenuidade e confiança desse discípulo que aos poucos vais sumindo, sumindo até que no final do processo não se verifica quase nada de sua identidade pessoal.

O absurdo do processo chega a situações onde, pra tomar qualquer decisão, por menor que seja, o tal guru precisa ser consultado num primeiro momento e logo depois passa a ser uma espécie de órgão deliberativo com poder de veto.

A princípio parece tão esdrúxulo e esquisito, mas não é, acredite. É claro que o método vai precisar distorcer os princípios bíblicos para se firmar, mas o faz de maneira bem inteligente. Dentre os muitos apoios que este apresenta, os 2 principais são:

* Autoridade espiritual

Ignorando completamente a nova aliança onde todos igualmente temos acesso ao Pai e que toda maldição foi cravada na cruz, esses abusadores travestidos de discipuladores, desenvolveram uma doutrina que ameaça a desobediência aos seus caprichos com a pena de maldição. Afinal, Deus amaldiçoou Miriã porque desobedeceu Moisés, o mesmo aconteceu com Corá, Datã e Abirão e certamente acontecerá com você, se desobedecer a palavra da autoridade.

* A mensagem da Cruz

Jesus disse que devemos renunciar a nós mesmos, tomar nossa cruz e segui-lo. Então esse discurso é usado, toda vez que se deseja persuadir alguém a fazer o que não deseja. Não vai à reunião? Tem que tomar a Cruz. Não participa das campanhas financeiras? Tem que tomar a cruz. Não quer terminar um relacionamento que eu acho que é errado? Tem que tomar a cruz.

O que fazer então, abandonar o discipulado? De forma alguma!!!


Penso que 2 atitudes precisam ser tomadas urgentemente.

A primeira delas é desfazer esse engano da “autoridade”. Entenda que não estou dizendo que não haja mais autoridade, afinal de contas, estaria negando o que romanos 13 e 14 ensina. O que estou afirmando, com toda certeza, é que não há ninguém, nem mesmo os que estão revestidos de autoridade, que possa se oferecer como cobertura espiritual de ninguém.

A Palavra nivelou todos por baixo ao dizer que “...TODOS PECARAM E DESTITUÍDOS ESTÃO DA GLÓRIA DE DEUS...” e ainda, “... A MORTE PASSOU A TODOS OS HOMENS POIS TODOS PECARAM...”. Então, está todo mundo no mesmo lugar, sem privilégios ou detrimentos.

Importa também resasltar que “...só há um mediador entre Deus e o os homens, JESUS CRISTO, homem...” Logo, essa conversa fiada de cobertura espiritual é historinha de quem quer se alçar a uma estatura acima dos demais irmãos quando Jesus disse que quem quiser ser o maior deve servir.

A segunda atitude é retornar a uma perspectiva bíblica sobre o assunto é a solução para esta verdadeira máquina de manipular e violentar pessoas.

Basta então olhar para Jesus e perceber como é que as coisas eram feitas e em Jesus, dentre as muitas lições que se pode perceber, fica a mais importante de todas.

O Mestre resumiu a experiência cristã num único mandamento:AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI.

É o amor a base de tudo. Sem o amor, não adiantaria nem mesmo entregar o próprio corpo para ser queimado.

E como esse amor é derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado (Rm. 5:5), fica aqui a nossa confissão de completa dependência do Espírito Santo.

Sem Ele, tanto o discipulado quanto qualquer outra atividade que resolvamos desenvolver restará improdutiva e trabalhará mais contra que a favor do Reino de Deus.

Manifesto aqui então minha indignação e protesto contra o discipulado com ele é praticado hoje, pela manipulação e ameaça, pois se o que fazemos é guiado pelo Espírito Santo, convém ressaltar o que o nosso irmão de Tarso já disse: ONDE HÁ O ESPÍRITO DO SENHOR, AÍ HÁ LIBERDADE.

Amemos portanto, como ele amou, com simplicidade e serviço, nos oferecendo como instrumentos para libertar e deixar livre.

O sonho de Deus é formar homens e não reféns. Então, não me venha com esse papinho de cerca Lourenço que comigo não vai colar.

Pensar é preciso.

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