quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ADOLESCÊNCIA


Um amigo muito querido me pediu que escrevesse sobre adolescência. Faz algum tempo isso, e talvez hoje ele nem esteja mais nessa fase. Mas vale-me um desconto, é a primeira vez que redijo “sob encomenda”.




Nem me recordo das inúmeras vezes que reescrevi esse texto, tanto na mente como na folha e a cada vez que o fazia uma nova idéia me surgia.


Deixe-me contar um segredo sobre este reles projeto de escritor: As idéias me surgem como luzes esparsas e disconexas e se engana quem pensa que é fácil concatená-las. Gasto bastante tempo refletindo até que começo a tatear um fio de Ariadne que vá me conduzindo a uma conclusão coerente.


Mas dessa vez, penso que essa indefinição seja não apenas uma característica do processo de elaboração do texto, mas a essência da coisa em si, pois o que caracteriza melhor a adolescência do que a palavra INDEFINIÇÃO???


O que é um adolescente? Difícil de explicar. Melhor seria começar pelo que ele não é. Não é criança, mas também não é adulto. Passou da fase dos carrinhos, mas ainda não entrou na época de dirigir os carrões. Tem mais vigor que o jovem, mas não é maduro pra canalizá-lo. Cheio de sonhos, projetos, idéias que na maioria das vezes são completamente desligados da realidade. Enfim, adolescência é o limbo da vida.


A origem da palavra é latina “adolore” e significa, em sua raiz, dor. Lembro da minha adolescência e é verdade que muitas dores eu senti.


Doeu ver as transformações no corpo. A voz engrossando, pelos crescendo e os hormônios se multiplicando. Eu corria para o espelho todos os dias pra saber se tinha nascido algum fiapo de barba. Raspava a pele lisa porque diziam que assim ajudava a nascer...kkkkkk.


Os hormônios, esses então me deram muuuuiiiito trabalho. Além das espinhas tinha a fissura pelas meninas. Não podia ver um pedaço de canela aparecendo que já era motivo pra perder o controle. É amigo, foi brabo.


Doeu me apaixonar. Quer dizer, mais ou menos. Doeu mesmo foi não ser correspondido. Mas era legal. Me apaixonava com a mesma facilidade com que desapaixonava. Mas não pense que eu não sofria... ô, como eu já chorei. Namorei uma menina que morava em São Paulo e esse relacionamento durou todo o período de férias, o verão. Eu tinha certeza e ela também, que éramos feitos um para o outro, nosso amor era eterno, pra sempre. As férias acabaram e 2 semanas depois eu descobri que “... pra sempre, sempre acaba...”. Chorei, sofri, mas sobrevivi.


Doeu sonhar sem ver meios pra chegar lá. Doeu ver meus pais se separarem. Doeu ver meu irmão e minha vovó morrerem. Doeu ter que me mudar. Doeu mudar de escola porque a grana ficou curta. Doeu ser hostilizado por não me enquadrar. Doeu ver a menina que eu era apaixonado namorando com um idiota que não tinha 2 neurônios, mas era cabeludo e tocava violão... doeu não ter um Nike nem ir pra Disney. Doeu ter que deixar de ser criança...


Muita coisa doeu, mas sabe de uma coisa? Eu adorei essa fase. Valeu a pena:


· Me apaixonar uma vez por semana


· Chegar da escola e ir soltar pipa ou jogar bola


· Virar a noite na casa dos amigos jogando video-game ou batendo papo


· Dormir tarde e acordar cedo


· Não saber quanto custa água, luz, telefone


· Sonhar acordado


· Festinhas


· Crises de identidade


· Emoções desreguladas


· Curtir as amizades


· Um rebeldiazinha de leve (ah foi legal kkkk)


· Ouvir Rock’n roll


· Muito futebol


· Ser teimoso e achar que sabia de tudo


· Gastar o dinheiro dos outros


· Pizza, hambúrguer e coca-cola...


· Estudar (tá certo que era mais pela galera que pela escola)


· Dizer que ia dormir na casa de alguém e ir pra festinha de não sei quem


· Matar aula pra ir ao Shopping


· Andar de galerão


· Zoação no ônibus


· Brigar, parar de falar, falar mal, perdoar e voltar a falar como se nada tivesse acontecido


· Gostar, enjoar, descartar e depois querer de volta




De tudo que foi bomo, o que de melhor eu guardo é uma sensação gostosa que tudo era possível. De um jeito ou de outro, dava pra chegar lá.


Foi uma fase onde muitas vezes me perdi e me achei, sofri e curei vivi e sonhei.


Como eu falei, a adolescência é a fase da indefinição, mas quem disse que definir é legal, bom mesmo é ficar dentro dessa bolha de emoções e deixar acontecer, o que rolar, se rolar, rolou. Senão, deixa como é que ta pra ver como é que fica.


Ah que saudade...

texto escrito para o meu amigo Iago Gutierrez

2 comentários:

Unknown disse...

Falae rapá !! Obrigado pela paciência de elaborar e refletir sobre o tema "adolescência" para nós adolescentes ou (quase adultos)..kkkk.. Ô fase..kkk Fica ligado que ainda vai ter varias encomendas por vir..rs
Abraços ^^"

Eric Jóia disse...

Manda ver amigo, eum prazer.

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